quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A História do Brinquedo


Essa história, ouço contar bem assim:

(E os créditos devem ir pra Lucia Cipriano, que é a responsável pela visita guiada do Museo del Giocattolo e del Bambino, de Milão.)



Imaginem há muito tempo atrás, um tetravô ou uma tetravó que andava pela casa recolhendo materiais pra construir um brinquedo. Tentem imaginar um mundo sem TV, sem internet, sem lojas de departamento e principalmente sem brinquedo comprado. Difícil, né? A gente acostumou em ver as coisas como são agora. Então, o tal tetravô ou a tal tetravó partia, por exemplo, de um cabo de vassoura unido a uma colher de pau através de alguns fios, e fazia um belíssimo cavalinho de pau. E com ele brincava de príncipe (que salvava a princesa), de princesa que salvava o príncipe - e aqui ela faz um parêntese longo: (… por que não? Princesas também podem salvar os príncipes, não é verdade, princesas adultas? E vocês, princesas crianças, depois de um pouco mais crescidas me contarão quantos príncipes terão salvado na vida), e continua: brincava de cavaleiro… cavalgava por todo o terreno inventando mil histórias, deixando voar a fantasia. Há muito tempo atrás, os brinquedos eram assim, pura invenção, porque as crianças de outros tempos não eram tão “sortudas” como as atuais, que tem os armários repletos de brinquedos... e assim precisavam inventá-los por si mesmas.
Depois, algumas pessoas adultas perceberam a importância do brinquedo na vida das crianças, e começaram a construir brinquedos em suas oficinas. Essas pessoas eram os artesãos. Foi assim que foram sendo criadas as bonecas de cerâmica, os primeiros brinquedos de madeira, que foram evoluindo, evoluindo, ficando cada vez mais complexos com a ajuda de engenhocas e máquinas já existentes (o mecanismo do relógio foi o mais utilizado), até virarem brinquedos caríssimos, comprados apenas pelos reis e nobres a seus filhos. Estes brinquedos eram quase sempre raros, mesmo para as crianças muito ricas, e, por eles, elas criavam uma estima imensa (eis porque muitos existem ainda!).
Os brinquedos artesanais reinaram absolutos por muito tempo, nas mãos ultra-cuidadosas dessas crianças nobres, que mal podiam usá-los em suas brincadeiras, sob o risco de vê-los despedaçados como resultado de uma ação mais contundente...
Até que, na Revolução Industrial, e isso já foi no tempo dos nossos bisavós, as fábricas passaram a se dedicar à produção de brinquedos. Novos materiais mais resistentes foram incorporados, como o ferro e outros metais. Já era possível não só brincar de modo mais livre, mas também às crianças burguesas adquirir um brinquedo. Cada vez mais brinquedos foram sendo produzidos nas fábricas e hoje, em larga escala de produção industrial, se encontra de tudo. O plástico, que é da época dos nossos avós, veio resolver definitivamente o problema da resistência e da leveza, mas principalmente do preço dos brinquedos. Depois do plástico, mesmo as crianças mais pobres puderam ter um brinquedo, o que é maravilhoso. Mas a entrada do plástico nessa história trouxe como substrato a irrelevância e a não-identidade do brinquedo. As crianças de hoje tem MUITOS brinquedos, mas se afeiçoam pouco a eles. Geralmente, não cuidam bem, tem pouco interesse, descartam muito rapidamente... A tecnologia invadiu o terreno e trouxe propostas interessantíssimas, outras nem tanto, porque um convite à passividade absoluta. E trouxe também, como não podia deixar de ser, um brinquedo mais individualista...
A história do brinquedo terminaria assim, de modo um pouco melancólico... Não fossem algumas crianças que, embora sejam mais “sortudas” que seus tetravós e possuam tantos brinquedos comprados, ainda se lançam na aventura de construir seu próprio brinquedo. O jogo de construção pode ser muito mais delicioso que um brinquedo comprado. E andar pela casa recolhendo os materiais disponíveis – antes que eles virem lixo – é uma atitude lúdica e ao mesmo tempo ecológica(eu já ando com preguiça dessa palavra, de tanto que é usada de modo vazio, mas ainda vale alguma coisa).
E o brinquedo “educativo”? Isso é outra história...
_ Claudia Souza _


Obrigada também ao Luiz Carlos Garrocho pelo generoso post sobre este blog no seu, linkado aqui.

6 comentários:

Juliana Sampaio disse...

Lindo, lindo, lindo. Como é bonito também ver que, mesmo com o armário ceio de brinquedos, eles se divertem mesmo é com suas próprias invenções. Alice ontem gastou a tarde desenhando em versos de papel-rascunho um bairro cheio de detalhes, onde as borrachas da escola eram os moradores. :-)

Mi Gosta Esse Mundo disse...

que beleza Claudia! é tudo lindo, mas a princesa que salva o principe é uma grande ideia! tempos modernos! Criancas com mais capacidade criativa futuros adultos pra construir um sociedade mais aberta e menos egoista... ta tudo ai, so depende da gente saber propor a brincadeira e virar o jogo

Anônimo disse...

Aqui em casa fazem muito sucesso: uma coleção de tampinhas, resíduos em EVA de uma fábrica, minha coleção de corujinhas e três galinhas d´angolas de madeira que enfeitam a cozinha. 4 não brinquedos muito brincáveis...
: )

Anônimo disse...

perfeito! a sensação aqui na minha casa é um lençol amarrado entre o berço da Duda e a cama da Ana, para comportar todas as bonecas dormindo... e a idéia não foi minha, foi de uma criança de 3 anos. Esta "arapuca" está armada há 20 dias... e aí de mim tentar desfazê-la... e nem quero!

Anônimo disse...

aqui nós temos a fantástica teia de aranha! um rolo de barbante...
J.

Anônimo disse...

E' tao legal aquelas cabaninhas de pano que a gente faz dentro de casa nos dias de chuva, né? Principalmente se apaga a luz, bota umas velas (ai tem de ter adulto junto) e começa a contar historias de terror. A-do-ro! Teia de aranha também é otimo. Pois é, virar o jogo!

 
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