domingo, 28 de março de 2010

Ética para a infância - parte 1


Semana passada, tomei um susto conversando com uma criança. Ela me disse, do alto dos seus sete anos, que era uma adolescente. E ela tinha a altura da geração danoninho, usava gírias, gostava de se distanciar dos adultos e das crianças menores, assim como gostava de chocá-las com palavrões e escatologias. Falava de dinheiro, dos seus equipamentos eletrônicos de última geração e dos meninos bonitos das séries de tv americanas.


O cenário eram as festas em buffet varando até altas horas mesmo sendo dia de semana. Era o retrato da infância urbano-contemporânea da classe média, ou de pelo menos uma parcela da classe média.


Metade do susto, vem do estranhamento mesmo, mas a outra metade, confidenciei a minhas amigas, vem do fato de que eu sou mãe de uma menina de sete anos e vejo anunciada mais uma transição. Crescendo, a criança vai diversificando as suas referências e tem cada vez mais certeza de que não há somente o certo e o errado de que os pais falaram, mas várias formas de ver o mundo. Parece, portanto, que crescer implica em assumir um certo estranhamento que vem dessa vivência de diversidade e de individualidade.


Oportunamente, indicaram-me o filme A Culpa é do Fidel (imperdível, obrigada Paulo!), que fala justamente de uma menina mais ou menos dessa idade que começa a cruzar os discursos da escola católica, dos pais comunistas e dos avós reacionários em busca da certeza que ela perde junto com a primeira infância.


Aos pais, cabe equacionar duas variáveis: suas próprias convicções e o mundo. Nem em nome da adaptação ao grupo ceder os valores inegociáveis, nem em nome desses valores tirar os filhos do mundo, até porque, que são os valores que não um jeito de estar no mundo?


__Cibele__





4 comentários:

Carol disse...

Dilemas, dilemas.... Adorei o post!

Claudia Souza disse...

Outro dia eu li num sei mais onde um artigo falando da "grande adolescência": no século 21, a infância e a maturidade encolheram, dando lugar a uma grande adolescência que vai dos6,7 até às vezes os 50. Por que? Porque a adolescência convém ao mercado de consumo, é inquieta, é angustiada, é incompleta.

Claudia Souza disse...

Ei, Carol. Dei um rolé pelos teus blogs. Bem-vinda!

Cibbele Carvalho disse...

Clau, a Carol é uma amiga bacaníssima, mãe das sabidas Clari e Ceci, com quem sempre troco figurinhas sobre maternidade. Aliás, no próximo post vem uma super sacada da Carol nessa coisa de ir contra a maré.

 
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