domingo, 11 de julho de 2010

Na contramão da imagem e da tecnologia

Em matéria da Folha de São Paulo, como a linha pedagógica desenvolvida a partir das idéias do pedagogo alemão Rudolf Steiner em 1919 tem ganhado mais e mais espaço no Brasil, defendendo uma educação baseada na imaginação, na cultura oral e manual.

Considero muitas coisas interessantes nessa linha (a perspectiva político-filosófica é muito válida), mas tenho algumas divergencias. Em alguns pontos são excessivamente radicais (o que cabia na época das primeiras escolas Waldorf, como reação ao sistema pedagógico vigente no contexto em que foi criada – nada se inventa sem certo radicalismo -, mas agora e em outros contextos parece meio anacrônico). Acho que dá pra seguir as linhas mestras de Steiner de um modo menos restritivo.

Alguns pais levam pro lado do “pode-não pode” com muita facilidade, sem se aprofundar o suficiente na perspectiva. Aliás, muito do que antes eu via como estrutura da Pedagogia Waldorf, hoje já consigo entender como deformaçao de leitura dos pais.

Lembro de várias crianças que frequentavam essas escolas que, com tipo 5, 6 anos me pediam desesperadamente pra lhes mostrar letras, ver TV, brincar no computador ou com brinquedos de plástico, eram fascinadas por carne … enfim, a lista do proibido virando desejo. Natural.

Outra coisa que me causou impressão foi a conduta de uma professora Waldorf minha conhecida que, tentando convencer o filho de 4 anos a beber suco de laranja natural, lhe dizia que aquela bebida era “a mágica luz do sol que lhe traria todo o poder do mundo”. Sinceramente, não gosto dessas divagaçõs poéticas infiltradas nas situações cotidianas. Me parece um golpe duro no desenvolvimento da racionalidade. Ela me explicou que esta era uma conduta típica da perspectiva no sentido de favorecer a imaginação. Será?

Enfim, pra completar minha crítica (por sinal muito de fora, porque nunca trabalhei em uma escola Waldorf ou estudei a fundo esta pedagogia) vejo que acaba virando uma espécie de grupo muito definido (pertinho da “moda”), inclusive porque na maior parte essas escolas são bem caras, permitindo o acesso apenas a uma pequena parcela da população que veste a capa de “alternativa” pagando muito por isso.

De todo jeito, e com tudo isso, a Pedagogia Waldorf ainda é uma boa opção: pode fazer muito bem a certas familias com determinado estilo de vida e, pros reles mortais, menos mal que outras linhas baseadas na virtualidade, na preparação pro futuro (escolas de mini-executivos, também muito comuns hoje em dia), no pragmatismo, enfim, que o imenso manancial de serviços que caracterizam a “inanição da inovação” (Edgar Morin).

As crianças que frequentam as escolas Waldorf fazem parte das poucas privilegiadas que ainda têm o direito de brincar por brincar.

_Claudia_

5 comentários:

Luiz Carlos Garrocho disse...

Pois, então, temos aí as coisas legais e as que nos parecem um pouco desfocadas para nosso tempo... Melhor, como diz o texto, excessivamente restritivas.

Mas acho que, como termina bem o post, ainda é um tempo-espaço em que as crianças podem brincar. Seria legal ver essa pedagogia ganhar um fôlego maior, mais afim com nosso tempo. Em Belo Horizonte, há amigos que estão felizes com suas crianças nessa pedagogia. E são pessoas sem restrições, alguns artistas, por exemplo. A escola funciona atém mesmo como um bom antídoto para toda presença tecnológica e para a carga intelectual que as crianças estão sendo submetidas.

Abraços

Claudia Souza disse...

Ei, Garrocho
Acho que, dosada bem é um bom antidoto sim. Dosada mal o feitiço pode virar contra o feiticeiro hehe
Abraçao!
O', quero te ver, heim???

cibele disse...

Nunca fui simpática a algumas posições das escolas waldorf... acho que, inclusive, não se pode dizer que há uma pedagogia waldorf porque é um pensamento muito místico...mas apesar disso, os vídeos do link da folha de são paulo conseguiram me impressionar muito, muito, mal...eu acho que o brincar está longe dali...há, sim, uma aproximação da natureza e tudo, mas não vejo espontaneidade, por exemplo. Sem falar que as crianças estudam alemão...

Claudia Souza disse...

Putz, eu botei o link sem nem ver os videos (por 2 motivos, acho: 1) minha internet movel ta o uoh de lenta; 2)eu ando meio "overizada" de imagens, as palavras tao ganhando de 10 a 0).
Também fiquei bem mal impressionada com eles viu.

Claudia Souza disse...

Em tempo: parece que se pega o sentido das "Ludi" ao pé da letra!

 
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