segunda-feira, 6 de abril de 2009

Infância no Interior

foto minha

Nas minhas andanças pelo interior de Minas, tenho observado que a infância também tem se modificado longe dos grandes centros. Ainda é verdade que o trânsito é menor e que as cidades são menos violentas, no entanto, a constatação de que o interior carece de acesso à boa educação escolar foi suficiente para abrir portas para as grandes redes de ensino e aos selos de qualidade pedagógica. A educação franqueada pouco observa a cultura local e as escolas de interior sofrem deturpações de toda ordem na tentativa de seguir o modelo. Comemorar o dia do aniversário da cidade não é suficiente. Cada escola deveria perceber as características do seu público e suas demandas e se permitir ter uma identidade.

Na melhor escola de uma cidade do Norte de Minas, as crianças desde o maternal permaneciam sentadinhas em suas mesinhas e saíam do prédio apenas para o recreio ou para a educação física duas vezes na semana. Aliás, educação física na escola infantil é uma coisa que já me deixa com uma pulga atrás da orelha!

Depois percebi que numa cidade pobre e distante da capital como aquela, era a vontade de oferecer acesso às informações, de se aproximar dos valores da capital (ainda que de forma predatória e sem critério) é que punha em risco o brincar. O tempo escolar não era para brincadeiras, já que a maioria das famílias morava em casa. Não havia livrarias e as compras pela internet eram impossibilitadas pelo alto valor do frete. Observando com um pouquinho mais de atenção, pude perceber que, embora aquelas famílias tivessem quintal à vontade, não valorizavam mais o corpo e as brincadeiras. As crianças eram muito pouco desenvolvidas no aspecto motor. Prevaleciam as brincadeiras de faz de conta, a televisão e o vídeo-game. No clube, os pais se revezavam atrás das crianças de quatro anos em piscinas infantis cuja água lhes chegava às canelas. Mamadeiras, bicos e tatimitates eram cuidadosamente preservados.

Apesar disso, no inverno, a cidade era tomada de novo pela sua grande vocação perdida. Algumas poucas faixas eram espalhadas em pontos estratégicos: Dias 4 e 5 Quermesse de São Geraldo. E apenas essas informações bastavam. Não a nós, forasteiros, que precisamos parar algumas vezes perguntando onde e a que horas.

Em outras cidades, mudam um pouco as cores, mas posso garantir que aquela ideia de infância de interior, livre e simples, está na lista das que correm seríssimo risco de extinção.
Mas talvez nas periferias...
_Cibbele_

5 comentários:

Claudia Souza disse...

Procê ver que é muito mais uma questão de cultura que de espaço. Mesmo as cidades de interior tendo ainda condições espaciais pra abrigar uma infância mais "corporal", a cultura cria um outro espaço, simbólico, que a inviabiliza como nas metrópoles.

Cibele disse...

E-xa-ta-mente!

Quando eu precisar de alguém que conclua bem as minhas idéias, já sei que devo chamar por "certa pessoa"!

Anônimo disse...

os pais interioranos não estão pensando naquilo que é tão deles que nem imaginam que possam perder. Então talvez seja cultural mesmo.

cibele disse...

Justamente, anônimo. Nem os pais, nem as instiuições de ensino, nem as políticas públicas. Nessa cidade, por exemplo, embora houvesse um parque e um zoológico, não havia NENHUMA praça pública freqüentada por crianças.

J. disse...

Bila, esqueci de assinar...é o J. ali.

 
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