terça-feira, 14 de abril de 2009

Jogo da Vida


Nesse feriado, tive nas mãos o Jogo da Vida, que fez história nos anos 80 e que foi relançado pela Estrela. Não sei bem se eu não o conheci ou se dele já tinha me esquecido, mas notei que aquela simulação era impecável na coerência de que um jogo precisa. Porque embora possa partir de uma premissa falsa, o jogo necessita de uma coerência interna, de uma lógica, de relações de validade, e é aí que mora a simulação.

O ganhador é aquele que reúne mais fortuna, já que, anuncia o slogan do tabuleiro, trata-se de um jogo rumo ao sucesso. De forma que, se você ao fim da vida cai na casa “fez um cruzeiro pelo mundo – pague 1045 dinheirinhos”, você estará perdendo e não ganhando. Mesmo que você morra no dia seguinte. No início do jogo, o dado decide a sua profissão. Você pode ser professor e ganhar 20 dinheirinhos, jornalista e ganhar 21 dinheirinhos, físico e ganhar 30 dinheiros ou advogado ou médico e ganhar 50 dinheirinhos. Portanto, se você for professor, tem mais chances de perder o jogo, assim como se você for um médico ou advogado infeliz, não importa...suas chances são boas!

No fim, uma bifurcação: ou você faliu e vai viver como um filósofo no campo, ou vira um milionário.

A lógica é impecável! Totalmente válida. E como sistema, pode ser preenchido pela inverdade ou pelo preconceito que quiser.

E eu que vivo citando a piadinha sobre filósofos de certo episódio dos Simpsons*, não achei a menor graça dessa vez. Não sei se a Claudia concorda, mas eu colocaria o jogo na lista Quintarola NÃO Recomenda.


*Família Simpson frente a tv. Jornal da noite anuncia manchete: A crise econômica é tão grave que não só os filósofos sofrem com o desemprego, mas até as pessoas úteis à sociedade.

6 comentários:

Juliana Sampaio disse...

Mas será que é grave assim mesmo? Cê não acha que as crianças olham pro lado e vêem que, grosso modo, é mais ou menos assim que o mundo atual funciona, e que se a gente quiser que seja diferente tem que subverter as regras do jogo, tem que inventar um caminho que não tava previsto e valorizar coisas que não são exatamente as mais valorizadas socialmente? Eu acho que as crianças se sentem confortáveis com esses estereótipos, porque eles dão um chão pra elas entenderem "em qual tabuleiro estão jogando". E pra saber a partir de qual configuração básica elas têm que ir alterando a estrutura ao redor, pra construir um roteiro de vida que seja realmente seu.

Bom, eu sei mesmo é que a Alice jogou esse jogo na casa de um colega e adorou, chegou a pedir pra ganhar um no próximo aniversário (mas agora já mudou de idéia por um violão).
Beijo, meninas!

Claudia Souza disse...

Meu filho adolescente concorda com a piadinha dos Simpsons! ha ha ha Eu, que já sou mais vivida, não. E espero que ele mude de idéia.

Não sei, Ju. Concordo com você em termos. Parece um pouco aquela história das brincadeiras ideológicas ("Sou pobre pobre pobre", "neguinha de avental" por exemplo). As Ideologias são mais potentes que as crianças... Caso ocorram (não é o caso de proibir), é bom dar uma boa conversada. Mas eu também, como a Cibbele, não recomendaria.

Claudia Souza disse...

Aliás, a propósito deste jogo, eu sugeriria um outro nome: Jogo DE UM TIPO de vida.

Cibele disse...

Ju,
Por partes: 1) Não acho tão grave, não. Não acredito que um programa de tv, um brinquedo ou um filme de cinema façam uma mentalidade. É bem mais complexo que isso. É só a gente puxar na memória que se lembra de coisas nem tão bacanas com que convivemos na infância e nem por isso nos tornamos reflexo direto daquilo.
2) Excelente a sua ponderação sobre estereótipos e sobre a criança saber em que tabuleiro está jogando.
3) Mas daí a ser um jogo que entre na lista de bacanas do Quintarola, são outros quinhentos. Um violão pelo Jogo da Vida? Belíssima troca!

O tom de gravidade possivelmente vem da minha visão super pessoal da questão. Realmente, não gostei de ver a minha profissão ilustrada para a minha filha como um fracasso na vida. O filósofo não perde porque ganha menos, é pior que isso, ele se torna filósofo PORQUE perdeu.

Clau,
É, eu pensei que ficou faltando esclarecer esse outro aspecto (mas se bem que vc é tão boa em completar as idéias alheias). Eu acho o nome um equívoco! No Banco Imobiliário, a coisa fica muito clara, mas no jogo da vida, a própria vida é tomada pela vida financeira ou profissional, sei lá. Um equívoco.

Eu gostaria de ver um jogo similar em que ganhasse, quem fosse mais feliz (isso é, que chegasse mais próximo de suas apostas) e que, simultaneamente fornecesse mais possibilidades de felicidade aos outros (alguma coisa como responsabiliadde social).

J. disse...

Legal a idéia de buscar novas formas de recompensa que não o "sucesso" do jogo, Bila.

QUINTEIRAS disse...

É um outro tipo de sucesso...mas é tb um sucessão...eu acho!

 
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