domingo, 5 de abril de 2009

Parlendas desde sempre

As parlendas - aqueles jogos orais tradicionais que as crianças usam pra escolher, sortear ou simplesmente exercitar a língua - têm uma função mais importante que se possa imaginar.

Uni duni tê
Salamê minguê
O sorvete colorido
O escolhido foi você...

Como cadeia de palavras - de significantes, portanto - podem ser comparadas à música e à poesia como arte e como representação de sentimentos, onde o que predomina é a sonoridade mas a escolha das palavras não é absolutamente em vão.

Lá em cima do piano
Tinha um copo de veneno
Quem bebeu, morreu
O azar foi seu!
Crianças muito pequenas se apropriam das parlendas e, na medida em que crescem, vão usando essas construções como referência em suas investigações sobre a linguagem oral e escrita.


Panderolê depan depi
E´de pate ruge
Panderolê depan depi
É de pate gri.

Parlenda é mais que versinho: pode ter como pode não ter rima, mas sempre tem ritmo. A fala na parlenda flui quase espontânea, com consistência e com coragem, sem muito pesar e sem muito pensar. É um passeio da sensação sobre a Razão que dá certo.

Tic-tac, carambola
Ela dentro, ela fora...
As parlendas são encontradas na Cultura da Criança há muito, muito tempo. E sobrevivem, modernizadas, nas brincadeiras de mãos entre-cruzadas. Não é raro vermos ainda hoje crianças inventando parlendas enquanto brincam. Valeria a pena um registro dessas invenções, que algumas vezes se perdem no acaso.

_ Claudia Souza_

6 comentários:

QUINTEIRAS disse...

Clau,
Vou te contar uma coisa. Por incrível que pareça, eu não gosto muito de parlendas. Uma vez eu fiz uma força bem grande pra me lembrar de onde vinha o meu desgostar e desconfiei que foi por causa dessa coisa de alfabetizar através de parlendas.
Quem gosta de parlenda escrita? Pois se o melhor da coisa é o ritmo!
Atualmente, eu até gosto mais, mas ainda tenho um preguiiiça!

Claudia Souza disse...

Ihhh, Cibbele, se você não gosta de parlendas por causa disso, não pode gostar também de histórias, de canções, brincadeiras, jogos, de um monte de coisa rsrsrs A Pedagogia atual lança mão de quase todos os componentes "infantis" pra "alfabetizar". É o lúdico "a serviço" das técnicas de ensino. Criança virou aluno.

Cibele noronha de carvalho disse...

Pois é, escapei por pouco...Eu fui alfabetizada com histórias feitas pra esse fim.
Barquinho Amarelo, Burrinho Alpinista, Estrelas da Noite, então as outras histórias saíram ilesas.
Mas já anotei muita parlenda em caderno...chato de doer!
É o "ensinar dentro do contexto"...ou a deturpação dele.

Anônimo disse...

é...lendo o texto a gente sente o contexto. Quando a gente lê uma parlenda já imagina uma cena feita, ensaiada. Parece até que estamos vivenciando aquilo. Seria bacana entender, no entanto, o imapcto coercitivo que elas causam, do tipo..."puxa o rabo do tatu, quem saiu foi tu". Na verdade não são só elas, mas vendo assim de relance, toda a estrutura que envolve a infância sugere este tipo de coerção, por que hein? J.

Anônimo disse...

Bila, a parlenda é chata fora do contexo, na sala de aula, na margem do para casa...imagino que a criança vai mais pelo ritmo mesmo. J.

Claudia Souza disse...

É estranho pensar nisso. A Escola moderna lança mão de textos originais - desprezando as cartilhas - com o argumento de que se deve aprender a ler lendo "de verdade". Mas acaba que um texto original "escolarizado" perde a verdade!

 
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