domingo, 1 de novembro de 2009

O moussakàs e a inter-culturalidade

Partindo das conversas sobre o Dia do Saci, me veio de matutar mais um pouco.

Se a gente defende a cultura popular brasileira – por exemplo, propondo alternativas locais à colonização – pode parecer nacionalismo barato (e azedo) ou resistência ao convívio com outras culturas mundiais. Mas não é bem assim. Trata-se de um exercício de resistência sim, mas não de negação das culturas diversas, ou da porosidade entre culturas. Resistência ao domínio, à invasão cultural banalizada, à perda da identidade nativa em nome de costumes importados.

bambini

Hoje li na revista Internazionale uma metáfora muito interessante sobre a integração entre etnias, que posso usar pra explicar como penso esse conceito.

O artigo, da jornalista grega Helene Paraskeva, recorre à metáfora do “moussakàs, prato completo de sabor único” , comparando-o “a uma sociedade em evolução, que passa de um modelo multicultural a outro inter-cultural”. moussaka Este prato de forno é feito com camadas de comidas muito diferentes, cozinhadas de modo muito diverso. É um prato multicultural porque seus ingredientes vêm de diversas partes do mundo. Mas é também inter-cultural já que seus ingredientes (que não são espremidos, comprimidos ou prensados, mas mantém sua identidade original) recebem todos o sabor do azeite, o qual põe em relação os diversos sabores e cria a harmonia pro paladar.

Pra mim é mais ou menos assim que deve funcionar a inter-culturalidade. Cada povo mantém sua identidade cultural, trabalha pra preservá-la, pra transmiti-la às novas gerações, embora reconheça o “fio de azeite” que une todas as culturas e que torna tudo mais harmonioso, mais bonito, que faz a convivência pacífica, “porosa”, entre os povos. É belo e curioso conhecer e saber reconhecer AS outras culturAS, e até trocar influências, desde que se conheça bem, se valorize e se faça respeitar A sua própria culturA. Aí estará sempre a sua referência, o seu ponto de convergência, no mundo-vasto-mundo. Porque cultura é sempre construção de sentidos.

Pra saber olhar pra fora, começa-se por olhar pra dentro.

_Claudia_

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