Nemo (Disney-Pixar, 2003) é mais um filme que tem a paternidade em destaque. Muito oportuno o post da Clau sobre nomes, pois são eles, os nomes desse filme, que nos esclarecem muito sobre quem é quem no fundo do mar.
Em geral, associamos o pai do Nemo a um pai superprotetor. Quem assiste ao filme pela segunda (ou terceira, ou quarta, ou quinta, ou milésima vez, pra quem tem filho pequeno) percebe três momentos distintos da paternidade de Marlin.
O pai conformado: Um pai em potencial (espera a maturação dos muitos ovinhos), Marlin se orgulha do conforto que proporciona à família. É um pai provedor, que apresenta à sua mulher o coral com bela vista do quarto das crianças. Nas palavras de Marlin: Sou ou não sou um peixe com P maiúsculo? Um pai que age conforme os padrões sociais.
Quando imaginam os nomes dos inúmeros filhotes, a mãe pensa em Nemo e o pai em Marlin Júnior. Nemo significa ninguém em latim e é também o nome do independente personagem de Júlio Verne em Vinte Mil Léguas Submarinas, que perdeu mulher e filhos. Marlin é uma espécie de peixe com focinho em forma de espada, considerado um grande troféu de pesca. Mede cerca de 4 metros e pesa até 700 kg. É ele o peixe bravamente pescado no livro "O Velho e O Mar" de Ernest Hemingway. Há aí um jogo de projeções. A mãe pensa em fugir da projeção, mas a marca do pai acontece à sua revelia. Por sua vez, o pai projeta, mas a vida é que acontece à sua revelia.
O pai reformado: Num ataque de predador, Marlin perde a mulher e quase todos os outros ovos. Resta um que ganhará o nome escolhido pela mãe: Nemo. Marlin torna-se então um pai superprotetor. Interfere na autonomia escolar, não acredita nas habilidades do filho, não lhe permite a autonomia _ dar a si mesmo um nome. Dar conta de sua própria identidade. É o pai modificado, reformado.
Nemo então se vê arrastado pela vida para dificuldades com que terá de lutar sozinho e para as quais ainda não desenvolveu habilidades. Nesse desnível entre Nemo e a vida, o peixe termina capturado e vai parar num aquário. Marlin segue atrás, aniquilando, a cada obstáculo, o medo que era seu. Ele se move motivado pelo bem estar do filho. Lá do aquário em que foi parar, Nemo recebe, feliz (e que filho sentiria diferente?), notícias de que seu pai luta contra os sete mares para salvá-lo.
O pai transformado: Depois de salvos, Nemo ainda tem a oportunidade de lutar mais uma vez, para salvar a amiga Dory, cujo nome significa um barco pequeno capaz de carregar grande peso (dóri). O novo pai Marlin, após vacilar um pouco, acaba por incentivar o filho.
É um desenho bonito, que mostra antes de tudo, que nenhum pai ou mãe sai da experiência da maternidade/paternidade sem enfrentar seus próprios medos e sem se modificar profundamente.
Por fim, deixo aqui o link de uma animação de O Velho e o Mar do diretor russo Alexander Petrov, ganhador do Oscar de melhor animação em 2000.
Parte 1
Em geral, associamos o pai do Nemo a um pai superprotetor. Quem assiste ao filme pela segunda (ou terceira, ou quarta, ou quinta, ou milésima vez, pra quem tem filho pequeno) percebe três momentos distintos da paternidade de Marlin.
O pai conformado: Um pai em potencial (espera a maturação dos muitos ovinhos), Marlin se orgulha do conforto que proporciona à família. É um pai provedor, que apresenta à sua mulher o coral com bela vista do quarto das crianças. Nas palavras de Marlin: Sou ou não sou um peixe com P maiúsculo? Um pai que age conforme os padrões sociais.
Quando imaginam os nomes dos inúmeros filhotes, a mãe pensa em Nemo e o pai em Marlin Júnior. Nemo significa ninguém em latim e é também o nome do independente personagem de Júlio Verne em Vinte Mil Léguas Submarinas, que perdeu mulher e filhos. Marlin é uma espécie de peixe com focinho em forma de espada, considerado um grande troféu de pesca. Mede cerca de 4 metros e pesa até 700 kg. É ele o peixe bravamente pescado no livro "O Velho e O Mar" de Ernest Hemingway. Há aí um jogo de projeções. A mãe pensa em fugir da projeção, mas a marca do pai acontece à sua revelia. Por sua vez, o pai projeta, mas a vida é que acontece à sua revelia.
O pai reformado: Num ataque de predador, Marlin perde a mulher e quase todos os outros ovos. Resta um que ganhará o nome escolhido pela mãe: Nemo. Marlin torna-se então um pai superprotetor. Interfere na autonomia escolar, não acredita nas habilidades do filho, não lhe permite a autonomia _ dar a si mesmo um nome. Dar conta de sua própria identidade. É o pai modificado, reformado.
Nemo então se vê arrastado pela vida para dificuldades com que terá de lutar sozinho e para as quais ainda não desenvolveu habilidades. Nesse desnível entre Nemo e a vida, o peixe termina capturado e vai parar num aquário. Marlin segue atrás, aniquilando, a cada obstáculo, o medo que era seu. Ele se move motivado pelo bem estar do filho. Lá do aquário em que foi parar, Nemo recebe, feliz (e que filho sentiria diferente?), notícias de que seu pai luta contra os sete mares para salvá-lo.
O pai transformado: Depois de salvos, Nemo ainda tem a oportunidade de lutar mais uma vez, para salvar a amiga Dory, cujo nome significa um barco pequeno capaz de carregar grande peso (dóri). O novo pai Marlin, após vacilar um pouco, acaba por incentivar o filho.
É um desenho bonito, que mostra antes de tudo, que nenhum pai ou mãe sai da experiência da maternidade/paternidade sem enfrentar seus próprios medos e sem se modificar profundamente.
Por fim, deixo aqui o link de uma animação de O Velho e o Mar do diretor russo Alexander Petrov, ganhador do Oscar de melhor animação em 2000.
Parte 1
Cibele
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Na próxima semana, eu e Clau estaremos de férias. A Clau passeando no verão europeu, eu me labuzado nas opções culturais da fria São Paulo. Em agosto, retomo a série de pais de desenhos animados, dessa vez, com um pai das antigas_o pai do Bambi. E a Clau promete mais uma deliciosa série de posts de viagem.
Bom descanso pra todo mundo!
Bom descanso pra todo mundo!
5 comentários:
Muito legal essa série sobre a paternidade.
Ah... nem fala! é sempre uma coisa que a gente tem de inventar mesmo e, como disse na postagem, nos modificam muito. Por mais que nos preparemos, por mais experiência que possamos adquirir, sempre é algo novo esse negócio de ser pai. Eu que o fui 4 X sei disso. E ocorre que essa relação continua mudando.
Além de linda, essa série de posts da Cibbele mostra como o viés da cultura pode alimentar a educação de um modo muito eficaz. Ou seja, ela poderia ter escolhido mil estradas pra falar da paternidade, mas pegou o manancial de elementos tecidos culturalmente. Nada mais moderno. Cultura dá sentido. Boas férias, sócia! =)
Que coisa maravilhosa a animação d'O Velho e o Mar! Deu aperto no coração.
Obrigada Garrocho,bom, o que você não é, é um pai amador! Parabéns pelo quarteto!
Sil, é mesmo, me esqueci de dizer como o nome dele se mistura o da casa. Anemone...Anemone...ele diz, né? Ó que sorte, eu viajo, mas a Clau chegou aguando a horta por aqui...Volte sempre, viu?
: )
Clau, É linda mesma a animação...eu arrepiiiooo...Beijos, sócia!
Vou fazer uma pausinha na viajação essa semana, depois de um mochilão incrível em família =) Domingo que vem tem mais, aí por um período longo, 20 dias de pernas pro ar na praia aqui na Italia mesmo e os últimos cinco dias em Barcelona (um pouco de civilização porque ninguém é de ferro). Tô curiosíssima pra ver Barcelona. Mas antes de ir vou postar o que encontrei em Orvieto, na Umbria (perto de Assis)na Itália. Vocês vão ver que jóia rara...
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