A partir do post abaixo da Cibbele e deste vídeo, mandado pela Paula Juchem, estive pensando muito sobre o conceito de objeto-produto e em como é triste perceber que, para a infância atual, as coisas, antes vivas (principalmente nos quintais), viraram produtos de consumo desprezíveis e descartáveis. Se a gente compara o pedacinho de pau transformado em milhões de significados, às vezes conservado por anos e anos no "museu pessoal", com a sandalinha da Sandy, por exemplo, tem vontade de chorar. Ou até o "Forte Apache", o carrinho de madeira feito pelo pai, o vestidinho novo experimentado e re-experimentado na casa da costureira, o ursinho de pelúcia que acompanhava à cama e ajudava a adormecer sem medo... todos objetos-vivos, que passavam a fazer parte da vida e da história de quem os possuía, com o que é oferecido/imposto às crianças hoje, aí sim, a gente se desespera.
Eu gosto de coisas, sempre gostei. Não de acumulá-las, mas de me relacionar com elas, de traçar seus caminhos na sociedade, de observá-las, estudá-las, interpretá-las. Eu sempre gostei de possuir algumas coisas que me atraiam e nisto não vejo nada de mal. Pois nessa relação de posse existe uma escolha, um sentido, um investimento afetivo que é útil para meu crescimento.
O que se vê agora é, ao contrario, uma não-posse desses objetos-produtos, que lutam nas propagandas pra sair das prateleiras mas não pra serem investidos de afeto . É a coisa-em-ato de comprar, de adquirir e basta. Porque é assim que funciona e se alimenta o sistema: quanto menos se considera o produto depois de comprado, mais se tem "vontade" de voltar a comprar um outro. É o eterno vazio provocando o eterno impulso de consumir.
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Às vezes penso até em como as próprias pessoas estão sendo gradativamente transformadas em produtos nessa absurda predominância das relações de mercado, e é dai que me vem de pensar que precisamos urgentemente fazer alguma coisa pra reverter esse estado de coisas, pelo menos no nosso micro-ambiente.
_Claudia Souza _
Eu gosto de coisas, sempre gostei. Não de acumulá-las, mas de me relacionar com elas, de traçar seus caminhos na sociedade, de observá-las, estudá-las, interpretá-las. Eu sempre gostei de possuir algumas coisas que me atraiam e nisto não vejo nada de mal. Pois nessa relação de posse existe uma escolha, um sentido, um investimento afetivo que é útil para meu crescimento.
O que se vê agora é, ao contrario, uma não-posse desses objetos-produtos, que lutam nas propagandas pra sair das prateleiras mas não pra serem investidos de afeto . É a coisa-em-ato de comprar, de adquirir e basta. Porque é assim que funciona e se alimenta o sistema: quanto menos se considera o produto depois de comprado, mais se tem "vontade" de voltar a comprar um outro. É o eterno vazio provocando o eterno impulso de consumir.
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Às vezes penso até em como as próprias pessoas estão sendo gradativamente transformadas em produtos nessa absurda predominância das relações de mercado, e é dai que me vem de pensar que precisamos urgentemente fazer alguma coisa pra reverter esse estado de coisas, pelo menos no nosso micro-ambiente.
_Claudia Souza _
11 comentários:
Só agora tive um tempinho pra assistir ao documentário na íntegra. Muito bom! Obrigada, Paula! O trabalho do Instituto Alana é mesmo importantíssimo! Quem ainda não viu, não deixe de ver...
Volto depois pra comentar detalhes...
Beijos
Bom dia, meninas. Achei este post aqui a cara do Quintarola: http://balooshop.com.br/blog/index.php/africa-mesmo-assim-e-bela/
Beijo!
Os detalhes prometidos: esse documentário me fez lembrar um outro sobre consumo na infância (assisti no GNT, mas não me lembro do nome)que mostrava como as escolas americanas abriam seu espaço e seu tempo pra pesquisadores-psicólogos estudarem a infância e o consumo. A escola recebia por isso, o pesquisador era pago por agências de marketing e publicidade. Uma das pesquisadoras afirmava que estava atrás do "fator amolação", isso é, como seus filhos amolavam seus pais de forma mais eficiente para ter o que queriam. As crianças, induzidas pela psicóloga, chegavam a encenar como faziam isso. Cada personagem ali tinha seu "ganho", menos a criança, que saía perdendo em todos os sentidos.
Ju,
Lindas as imagem, né? Obrigada pelo link. Interessante como a criação pulsa na escassez, né?
Oi, Ju. Boa indicaçao, do post e do blog. Tem tudo a ver com a gente sim. Concordo com a Cibbele de que "a criaçao pulsa na escassez", ou com Paulo Freire de que "a falta educa mais que o excesso", mas isso me revolta um pouco.Porque nao devia existir escassez imposta, principalmente pras crianças. Nem menos excesso imposto. A nao ser que fosse uma circunstancia de escolha, artistica, nao devia existir nem coisa nem outra. Hoje consigo peceber que existe criaçao também NA e COM A abundancia e que tudo depende de como se manipulam coisas e conceitos, nao da circunstancia em si. Um beijo e obrigada também.
Justamente, Clau...muito bem ponderado, porque de observar a criatividade na escassez a fazer um ode à pobreza é um pulo!
Exato. A gente ta sempre "a um pulo" de fazer um ode à pobreza, ao passado,ao idilico, mas nao é nada disso.
Boa reflexão, meninas. Tá merecendo virar post, heim ;-)
E a minha questão é: como se envolver com o objeto vivo sem cair na nostalgia. Vivi a infância do objeto vivo. E a arte é isso também. Aliás, no meu novo blog sobre teatro e filosofia (http://www.luizcarlosgarrocho.redezero.org/) fiz uma postagem sobre o Teatro de Tadeuzs Kantor, que trabalha com o objeto pobre.
Será na arte que encontraremos o objeto vivo? Vez por outra me surpreendo com uma resposta: o meu filho mais novo pegou outro dia um barbante de um pião tradicional (que não se interessou tanto) e amarrou numa bolinha de massagear. Criou um brinquedo que disse ser uma "arma ninja" ou coisa assim. E fica o dia inteiro jogando aquilo...
Vamos lá: tem muita coisa pra gente observar e conversar.
Abraços
Entao, Garrocho, na Arte essa possibilidade é muito maior, porque a Arte é uma vontade de significaçao em si. Mas é possivel "vivificar" os objetos também no cotidiano. O fato é que reconhecer e considerar a vida das coisas faz da gente pessoas muito mais inteiras.
Vou la passear pelo teu novo blog! :-)
Garrocho, Eu acho impossível evitar a nostalgia radicalmente. Até em relatos adultos de infâncias mais "sofridas" a gente vê ela lá (Meu Pé de Laranja Lima?). Mas a gente deveria evitar apagar essa marca quando olha pra infância atual. Tô pensando isso agora, de improviso, mas acho que seria uma espécie de olhar adulto ideológico. Um olhar marcado pela pessoalidade que se faz de universal. Como se a única infância boa e possível fosse a que vivemos. E vamos combinar, não sei como é a experiência de vocês, embora eu tenha muitas saudades da minha infância, pensando hoje, criticamente, acho que em vários pontos os meus filhos estão ganhando.
Mas não em todos...
: )
~Esqueci de assinar:
Cibele
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