quarta-feira, 13 de maio de 2009

Versões...

No Museu onde trabalho fiquei sabendo que "Pinóquio" foi originalmente publicado em capítulos, num antigo jornal italiano, o Giornale per i Bambini, de 1883. A história se chamava "A história de um bonequinho". E tinha tons rocambolescos, tanto que o próprio autor, Carlo Collodi, anexou ao texto um bilhetinho aos editores, pedindo que "avaliassem bem o conteúdo pra ver se era adequado". Só muito tempo depois foi publicada em livro com o título "As aventuras de Pinóquio". Mais tempo ainda, e ganhou a versão Disney, como muitos outros contos clássicos. Não entro no mérito de dizer se isso é bom ou ruim.

Mas acaba que a versão Disney vira A versão oficial. E quase ninguém mais se lembra de que, ao invés da baleia, nadava pelos mares e engoliu Gepetto e Pinóquio um monstro imenso, um "peixe-cão". Ficou esquecido também que um Mestre marceneiro, de nome Mastr'Antonio e apelido Cereja por causa do nariz sempre vermelho, foi quem encontrou o pedaço de madeira falante com o qual pensava em fazer um pé de mesa, mas que acabou dando ao compadre pra se livrar dele (é muito divertida a cena do primeiro encontro de Pinóquio, ainda pedaço de madeira mas já irreverente, com Gepetto). Que a "Fada Azul" era uma menina de cabelos azuis que vivia numa casa abandonada. Que o Grilo Falante era na verdade um sábio. E de muitos outros detalhes (inúteis?) inventados pelo autor de fato, numa história cheia de símbolos e de inspiração poética.

A versão Disney é tão poderosa que no "Parco Collodi" aqui na Itália, logo na entrada, vê-se uma grande escultura representando a baleia. Provável homenagem aos desenhistas que a inventaram...

Eu acho que vale a pena revisar um pouco as versões originais dos contos clássicos junto com as crianças. São obras de arte, e penso mesmo que não é por acaso que certos conteúdos estão ali. Cada detalhe faz parte da trama de criação do autor, e tem um sentido que as crianças são capazes de compreender, nem que seja só num nível simbólico, mesmo aqueles mais "violentos".

Os filmes da Disney - principalmente os primeiros, como Branca de Neve e o próprio Pinóquio, são muito bem feitos, divertidos e cumprem sua função de entreter. São leves e "politicamente corretos". Mas conhecer as obras literárias de onde derivam pode ser também uma ótima pedida. Totalmente diferente como linguagem, muito mais ampla como conteúdo.

_Claudia Souza_

10 comentários:

Anônimo disse...

Tomei conhecimento deste blog através de um amigo e gostaria de parabenizá-las pela seriedade e pertinência dos textos. Sérios, bem fundamentados, instrutivos, mas mesmo assim gostosos de serem lidos. Muito diferente do tom gugu-dadá e das rasas "dicas" dos blogs de e para mães e do besteirol que domina a maioria dos blogs de mulheres que conheço. Os textos poéticos da Cibbele e as imersões culturais da Cláudia combinados estão se tornando um ótimo produto. Vão em frente, meninas. Abraço.
Lélia Marcondes - educadora - Recife (PE)

PAULA JUCHEM disse...

Que cultura mais sedutora e dominadora é essa norte americana, não? Acho que até mesmo o Benigni na sua versão de "Pinoquio" colocou a Baleia, ou sera que me engano?

Claudia Souza disse...

Não lembro, vi esse filme faz tempo, mas se não me engano tem a baleia sim. Pinóquio já foi filmado em inúmeras versões, mas a "oficial" é sempre a da Disney... Eu acho fofa essa aqui: http://www.youtube.com/watch?v=m8e2Hv-nO24&feature=related
embora seja muito adaptada também...
A RAI produziu uma na década de 70 bem fiel à original.

Claudia Souza disse...

Lélia, obrigada pela visita e pelos elogios! Esperamos continuar te agradando com a nossa prosa, ao ponto de te fazer voltar sempre por aqui. Um abraço!

QUINTEIRAS disse...

Uma menina de cabelo azul morando em uma casa abandonada? Adorei!
Fiquei lembrando da Fanny Abromich comentando sobre os personagens de sempre do teatro infantil...em meados dos anos 70...ainda hoje, as fadas, princesas e bruxas pasteurizadas às vezes ficam chaaaatas, não é?

Lélia, que visita boa! Fico feliz que você tenha se manifestado. Puxe a cadeira, viu? Quem te indicou o Quintarola?

Beijos

Elvira disse...

eu gosto só de bruxas e princesas e fadas fora dos padrões, divertidas. essas estilo Disney são muito chaaaatas mesmo.

Cibele disse...

Elvira, eu até gosto de bruxas, fadas e princesas, mas ficar só nisso é de uma probreza, né?

Essa versão (link abaixo) passava na tv quando eu era criança. Eu morria de medo. Tem uma estética japonesa, mais violenta, que somada a moral da italiana da história...cruzes!
http://www.youtube.com/watch?v=JDXNamvgMeo&feature=related

Esse filme, Clau, eu vi no cinema...lindo mesmo...
A versão do Benigni eu não vi...taí...

Cláudia Castro disse...

Muito bom este artigo. Concordo plenamente que é interessante ler também as versões originais dos contos com as crianças. Abraços às quinteiras.
Cláudia Castro

Claudia Souza disse...

Cláudia, obrigada pela visita. Abraço pra você também.

Anônimo disse...

Olá, meninas. Obrigada pela receptividade. Quem me falou do blog de vocês foi o Ricardo da Rede Andi. Abraços!
Lélia

 
BlogBlogs.Com.Br