Adorei a citação abaixo, parte do artigo A Literatura Infantil e o Pó de Pirlimpimpim de Maria Cristina Gouveia Soares, no livro Lendo e Escrevendo Lobato, Editora Autêntica. Lembrei dela durante essa e essa discussões sobre realidade e fantasia e corri para transcrevê-la assim que o livro me caiu às mãos novamente:
"...Difícil gênero esse de escrever à criança. Para satisfazer a estes leitores adultos é bastante relatar à vida...não é preciso fugir da realidade. Porém a criança exige mais do que isso: exige imaginação...
Porém, aí aparece a minha discordância com o grande Lobato. E esta discordância está no pozinho. Todas as vezes que os pequenos heróis de Lobato têm de fugir do plano da realidade para o plano da imaginação tomam uma pitada daquele pó. O pó é como uma explicação, uma separação mesmo de dois planos, deixando os leitores na impossibilidade de passarem para o imaginário porque lhes falta o rapé de pirlimpimpim. O garoto não precisa de rapé algum para enveredar pelos países da imaginação, viver aventuras maravilhosas, ver coisas nunca vistas. Para que explicação do pó? A imaginação da criança não só não exige, como até recusa essas explicações. Acho que no livro infantil, a passagem da realidade para a fantasia deve se dar sem nenhum sono, sem nenhum pó, sem coisa algma que auxilie esta passagem...para o pequeno leitor, é sempre uma decepção isso de heróis se servirem de qualquer coisa para fugirem da realidade besta deste mundo besta."_Jorge Amado
_Cibbele Carvalho_
4 comentários:
Muito legal mesmo esse trecho do Jorge Amado. Ele tem toda razão. Eu agora que tô escrevendo pra crianças profissionalmente tô aprendendo muito a deixar de lado certas explicações e cair direto na imaginação. Outro dia, tava mesmo conversando sobre isso com a Miriam Gabbai, da Callis, ela me ensinando como deixar um texto que era legal, "redondo" :-D A Miriam é o maior barato, sabe tudo de literatura infantil.
Ué, eu não "vejo" o pó como uma senha para a imaginação. Acho que o pó já é, ele mesmo, uma manifestação da fantasia. A imaginação, apoderando-se da história...
O blog de vocês está excelente. Parabéns!
Beijo.
Oi, Dani. Obrigada pela participação e pelo elogio. Esse ponto de vista pode ser interessante também. Acho que são dois modos de ver a questão que levam em conta o mesmo ponto: na literatura infantil não dá pra "contar" muito, tem de "mostrar" mais e recursos pra isso existem muitos. Talvez a intenção do Lobato tenha sido essa mesma que você disse. Embora eu tenda a pensar mais como o Amado.
Ei Dani...taí, não tinha pensado dessa forma ainda. Acho que você tem razão e talvez o Jorge Amado tenha sido um pouco severo. De qualquer forma, a passagem do real ao imaginário, ou até melhor, a continuidade de uma coisa a outra, não só é mais infantil como mais pós-moderna e até mais bonita, acho...Mas não pode ser impedimento (a literatura e a infãncia não são um lugares de rígidos) pra existência do pó mágico...muito sugestivo também.
Que bom que você anda lendo o nosso cantinho. Volte semore, viu?
Beijos
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